ENSAIO PRÉ-SELECIONADO
PRÊMIO MARGEM DE FOTOGRAFIA 2020
Sobre a autora: "Me chamo Osani, tenho 25 anos, nasci e fui criada em Acari, cidadezinha que fica na região Seridó do Rio Grande do Norte, faço fotografias documentais e artísticas da cidade onde envelheço. Sempre gostei de escrever e de prestigiar a arte nas imagens, mas nunca tinha me imaginado por trás das câmeras, nem publicando meus escritos. Em 2017 comprei meu primeiro equipamento, aos poucos fui experimentando fotografar meu cotidiano, os lugares ao redor, comecei a publicar, com isso aprendi a ter mais zelo, carinho e apego pelas particularidades da cidade, passando a vê-la com outros olhos. Com o passar, vi que poderia mostrar meus escritos, resolvi juntar meus retratos com relatos sobre o município, passei a escrever sobre a vida das pessoas que me rodeiam, sobre devaneios, sobre raça, classe, gênero, denunciando hipócrisias, sigo tentando mudar algumas realidades com a minha arte, aprendi que dando voz ao povo estou dando voz a mim mesma, que é disso que quero sempre fazer parte."
Sobre o ensaio: "Edna. Ninguém a conhece por esse nome só a chamam por pupá. Pupá gosta de serestas, jogar no bicho, de se arrumar. Suas unhas sempre estão pintadas. Seu passatempo favorito é jogar baralho apostando. Pupá diz que no jogo e no amor há sempre um preço a se pagar. Fuma desde os 11 anos. Tem em seus sonhos o desejo de parar e as vezes em seus discursos ressalta: ou eu mato ele ou ele me mata. Pupá tem 48 anos, queria ser veterinária. Nunca teve sua carteira assinada. Pupá é mãe solteira, sempre que pergunto sobre seus namorados ela me fala: melhor só do que mal acompanhada. Pupá não tem conhecimento sobre a solidão da mulher negra. ela sempre viveu essa solidão. Já foi abandonada, foi chamada de negra safada, macaca, tição. Como é difícil a vida da mulher preta e pobre nessa nação. Seu prato favorito é fava bem feita com farinha. Diz que pra quem já passou fome esse prato é pra rainha. Gosto de chama-la por pupá, mas prefiro mainha."